CONHECER A VERDADE

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo VIII:32), assim falou o Mestre aos judeus quando, no decorrer da conversa, lhes disse que divulgava a palavra que trazia do Pai. Então, receosos dos prejuízos e consequências que as orientações da Boa Nova lhes poderiam causar, decidiram matá-Lo.

Por aquela expressão, anotada pelo apóstolo João, poderemos subentender que mesmo os mais incrédulos, como até os perseguidores da nova doutrina teriam, no momento próprio, oportunidade de conhecer a verdade, porquanto a misericórdia e a bondade do Criador, não deixam ao abandono e no sofrimento eterno nenhum dos seus filhos.

O aprendizado e o conhecimento das coisas que se vão conseguindo ao longo dos tempos, adquiridos no espaço espiritual e nas experiências reencarnatórias, favorecem gradativamente o progresso e a evolução de cada Espírito, quando acompanhados das práticas, cada vez mais fortalecidas, no amor a Deus e ao próximo.

Este processo evolutivo será longo e mais ou menos dificultado, de acordo com o esforço que cada um de nós vai conseguindo na busca do seu aperfeiçoamento moral e espiritual, numa viagem imortal imparável que todos os Espíritos têm individualmente de realizar.

Para alcançarmos mais depressa o nosso objetivo – a felicidade plena – é necessário que saibamos aprender a “amar a Deus e ao próximo, e a fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fizessem a nós”. Sendo dois ensinamentos com tão curtas palavras, mas de uma tão grande profundidade espiritual, a grande maioria dos homens ainda não as sabem interiorizar devidamente e, muito menos, de as pôr em prática.

Não é de admirar, portanto, que se vejam diariamente os espetáculos noticiosos deprimentes onde predominam a violência, a corrupção, os assaltos, os assassinatos, o narcotráfico, as perseguições rácicas, xenófobas e religiosas, as greves, os tumultos, a ambição bélica e territorial que gera novos surtos de miséria, de solidão, de pobreza, de fome, de revolta e de incompreensão.

Apesar dos tempos perturbados que se vivem, temos vindo a observar através de organizações não governamentais, o coração generoso de muitas criaturas refletido em atos de sincera solidariedade, trabalhando e ajudando em muitos pontos do globo, junto a comunidades onde as necessidades básicas de subsistência são gritantes.

Infelizmente, existe uma outra e significativa parcela da humanidade cristã, beneficiária de meios financeiros exorbitantes, que ainda permanece indiferente em relação ao cumprimento do que preceitua o segundo mandamento divino que diz “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt XXIII:39).

Por isso, não é de admirar que a pobreza e a fome, como apontam os especialistas, tenham crescido nos últimos anos devido à pandemia e à indesejada inflação, mostrando as estatísticas em 2018, que mais de 822 milhões de pessoas tenham passado fome em todo o mundo e que, nas regiões em desenvolvimento, 1 em cada 10 até ao ano 2030, viverão apenas com cerca de 1,98 euros por dia.

Referem também os estudiosos destas matérias globais que, para erradicar a fome no mundo, ela custaria por ano uma verba na ordem dos US$265 biliões em recursos adicionais, valor que seria possível de obter caso as 10 maiores economias mundiais na atualidade disponibilizassem 0,4% do seu PIB: mas não parecem dispostas a querer fazê-lo, apesar das mais poderosas e ricas gastarem verbas anuais muito superiores, por exemplo, nos seus orçamentos de defesa.

Por dádiva divina, o homem é livre de arbitrar os seus pensamentos, sentimentos e atos. Contudo, tendo essa liberdade, não pode esquecer a responsabilidade que lhe cabe, sempre que os põe em movimento.

É então importante lembrar em particular o cristão, que se torna cada vez mais urgente continuar a divulgar os ensinamentos da Boa Nova e a Doutrina dos Imortais, para que ao serem devidamente compreendidas as leis que comandam a vida, elas se tornem definitivamente os faróis orientadores na viagem espiritual que temos pela frente.

A explicação das mensagens divinas que Jesus tinha por hábito divulgar antes dos alívios e curas daqueles a quem tinha chegado o momento de serem libertados dos seus males físicos e espirituais, é um método prático orientador bastante importante para todos os espíritas a quem se dirige o apelo “Ide e anunciai a Boa Nova a toda a criatura”.

A terceira lei de Newton, entendida pela ciência para os corpos materiais, diz o seguinte: “Para toda a força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação em um corpo diferente”. É uma lei científica em tudo semelhante aquela que o evangelho ensina na expressão de Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados, pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos.” (Mt VII:1-2)

Por isso se compreende e aceita a definição: “Todo o efeito tem uma causa, e todo o efeito inteligente tem uma causa inteligente”.

Qual será então o efeito daquelas práticas resultantes dos pensamentos e ações inferiores, maldosos, nocivos e perturbadores que, ao desenvolverem ondas eletromagnéticas negativas, vão desencadear dores, desconfortos, misérias, angústias e até mortes? Aqueles de nós que se comprazem ou dão campo a esses comportamentos infelizes, o que é que, entretanto, irão encontrar na sua viagem imortal mais à frente?

Seguindo o raciocínio prescrito naquelas leis atrás descritas, facilmente se compreende que sendo a causa negativa, o efeito que a vítima vai sentir face ao tipo de ondas recebidas, será desagradável, de mau estar, de possível sofrimento e dor. Mas se a causa é positiva, de um pensamento ou de uma oração benfazeja, de uma fonte benéfica e venturosa, o efeito traduzir-se-á numa sensação de bem-estar, de harmonia, de serenidade e de paz.

Viajantes neste universo incomensurável, somos sempre responsáveis por tudo aquilo que pensamos ou fazemos e, por isso, vamos sentindo nas nossas múltiplas visitas ao corpo, os efeitos danosos do que de errado fizemos anteriormente.

Assim, as forças e energias que afetam o ser inteligente resultantes das movimentações que lhe são alheias e as que ele próprio desenvolve a todo o instante, através dos pensamentos, sentimentos e atos que o ligam à vida física, vão determinando o bom ou o mau viver de que desfruta na existência corpórea, com repercussões posteriores no regresso ao ambiente espiritual.

Conhecer a verdade que liberta é cada vez mais urgente na vida de cada um de nós, se aspiramos atingir com rapidez e segurança, os mundos de paz e de felicidade que nos foram prometidos.

O desafio está do nosso lado e os meios orientadores que nos são disponibilizados para essa tarefa ingente, podem fácil e rapidamente ser encontrados na Boa Nova que o Espiritismo relembra e divulga com toda a profundidade espiritual.

É uma tarefa individual que precisa ser iniciada por todos quantos sentem as amarguras da vida, o desconforto familiar, a negação profissional e social ou a incompreensão religiosa, traduzida tantas vezes na falta de respostas lógicas e racionais para as dúvidas existenciais que nos assaltam.

Jesus prometeu o Consolador, o Espírito de Verdade, “que o Pai enviará em meu nome, e que ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo XIV:26).

Veio depois o Espírito de Verdade com novas mensagens [1, 2]:

Espíritas amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana.” (O Espírito de Verdade, Paris, 1860)

Eu sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos deve curar; os débeis, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim todos vós que sofreis e que estais carregados e sereis aliviados e consolados; não procureis noutro lugar a força e a consolação, porque o mundo é impotente para as dar. Deus faz um apelo supremo pelo Espiritismo aos vossos corações: escutai-o.” (O Espírito de Verdade, Bordéus, 1861)

O apelo inicial feito ao homem pelo Cristo de Deus, é reforçado pelo Espiritismo com o convite à melhoria moral, à reforma íntima, ao aprendizado e ao conhecimento das leis superiores que comandam a vida, porque quem quiser chegar às moradas sublimes da Casa do Pai, terá que segui-Lo conforme Ele disse ao discípulo Tomé: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo XIV:6)

REFERÊNCIAS
[1] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1.ª edição das Edições Hellil, Capítulo VI, item 5, 2014.
[2] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1.ª edição das Edições Hellil, Capítulo VI, item 7, 2014.

FONTES DOCUMENTAIS
A. Kardec, O Livro dos Espíritos. 1.ª edição, Edições Hellil, 2017.
A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1.ª edição das Edições Hellil, 2014.
Os Quatro Evangelhos, 22.ª Edição da Difusora Bíblica, maio de 1991.

Por Eugénio Marques